Segundo Gustavo Beck, a curadoria em cinema não se limita à escolha de títulos: trata-se de um trabalho narrativo, crítico e estético que molda a forma como enxergamos a história e o presente do audiovisual. Reconhecido internacionalmente como curador, programador e realizador, Gustavo Beck destaca a potência das mostras temáticas para transformar a percepção do público e renovar o debate cinematográfico.
De acordo com Gustavo Beck, organizar uma mostra é propor uma leitura, sugerir conexões e lançar luz sobre recortes muitas vezes negligenciados pelo circuito tradicional. Para ele, a curadoria é uma prática ativa de interpretação e intervenção cultural.
Curadoria como linguagem: o filme como peça de um discurso maior
Conforme explica Gustavo Beck, a curadoria deve ser entendida como uma forma de escrita. Cada filme selecionado, cada sequência de exibição e cada contextualização proposta compõem uma estrutura discursiva que conduz o olhar do espectador. Nesse sentido, a mostra temática se torna um campo fértil para a criação de sentidos que vão além dos próprios filmes.
Ao agrupar obras por afinidades estéticas, políticas, geográficas ou autorais, o curador constrói pontes entre filmes e contextos, promovendo diálogos que desafiam leituras convencionais e ampliam a compreensão crítica do cinema.
Mostras temáticas e redescobertas históricas
Para Gustavo Beck, as mostras temáticas têm o poder de recuperar e reposicionar obras que foram esquecidas, marginalizadas ou subestimadas. Ao recontextualizar essas produções dentro de um novo recorte, o curador não apenas resgata títulos, mas também questiona as hierarquias estabelecidas pela historiografia oficial.
De acordo com Gustavo Beck, esse processo é fundamental para a democratização do olhar e para a pluralização da memória audiovisual. Mostras sobre cinema indígena, cinema de mulheres ou cinematografias periféricas, por exemplo, operam como dispositivos de inclusão e reconhecimento simbólico.
A mostra como experiência sensorial e intelectual
Conforme aponta Gustavo Beck, uma mostra temática bem-sucedida deve estimular tanto a emoção quanto a reflexão. A curadoria atua, nesse contexto, como uma arquitetura sensível que envolve o espectador em uma jornada estética e intelectual.

Isso é especialmente relevante em festivais e museus, onde Gustavo Beck tem atuado ao longo de quase duas décadas. Para ele, esses espaços oferecem a liberdade curatorial necessária para explorar temas complexos e oferecer experiências de fruição cinematográfica mais densas e significativas.
Curar é contextualizar: o papel do texto e da mediação
Segundo Gustavo Beck, a mediação textual — seja por meio de catálogos, painéis, apresentações ou debates — é parte essencial do trabalho curatorial. Explicitar o recorte, situar as obras e compartilhar referências permite ao público compreender a lógica interna da mostra e se engajar com ela de maneira mais profunda.
Além disso, essa mediação aproxima o público não especializado do pensamento crítico sobre o cinema, fortalecendo o papel pedagógico e formativo das mostras.
Curar uma mostra temática é, acima de tudo, propor uma nova maneira de ver. Ao combinar seleção, contexto e interpretação, o curador reconfigura a experiência cinematográfica e contribui ativamente para a construção de uma história do cinema mais crítica, plural e dinâmica. Em um mundo saturado de imagens, a curadoria segue sendo um gesto essencial de organização, reflexão e resistência cultural.
Autor: Rymona Ouldan