No Rio de Janeiro, a decisão iminente sobre o tombamento da antiga sede do DOPS ganha contornos simbólicos fundamentais para a preservação da memória e da história. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está prestes a deliberar sobre essa proteção definitiva, e isso representa mais do que um simples registro: é um reconhecimento das marcas físicas de um passado traumático. O prédio, localizado no centro da cidade, teve papel central durante a ditadura militar, quando funcionou como departamento de repressão política.
A sede do DOPS no Rio de Janeiro carrega em suas paredes evidências silenciosas de um período de controle, vigilância e opressão. Durante os anos de regime autoritário, ali operavam mecanismos de investigação, prisão e tortura voltados a opositores do governo. A preservação desse local, através de um tombamento, significa conservar não apenas tijolos e rejuntes, mas as próprias cicatrizes da história nacional — elementos essenciais para que as novas gerações compreendam as dimensões da violência institucional.
Além do valor histórico, o edifício possui relevância arquitetônica. Sua construção original remonta ao início do século XX, quando foi erguido para abrigar a Repartição Central de Polícia, e desde então já abrigou diferentes polícias políticas. A proposta de tombamento inclui a inscrição nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes, garantindo que seu traçado, fachada e interior sejam oficialmente protegidos e reconhecidos pelo Iphan como patrimônio nacional.
Uma deliberação favorável pode resultar em transformações concretas no uso do imóvel. Há propostas para converter o prédio em um Centro de Memória e Direitos Humanos, transformando um espaço de repressão em local de educação, reflexão e justiça. Se concretizado, esse projeto tornaria a antiga sede do DOPS um ponto de visitação cívica, fortalecendo o compromisso com a lembrança do passado e estimulando o debate sobre autoritarismo, democracia e direitos humanos.
Outro aspecto importante é que a preservação da sede do DOPS reforça a ideia de reparação simbólica para vítimas da ditadura. Ao reconhecer esse prédio como bem protegido, o Estado assume a responsabilidade de manter viva a memória daqueles que sofreram perseguição política. Esse reconhecimento institucional é parte de um esforço mais amplo para confrontar a violência histórica e promover a reconciliação através do direito à lembrança.
No plano institucional, a decisão do Iphan também sinaliza um compromisso renovado com a salvaguarda do patrimônio cultural relacionado a períodos sombrios da história. Proteger esse imóvel significa valorizar não apenas a estética arquitetônica, mas a memória social e política. É um gesto de maturidade cultural: admitir os erros do passado para que não se repitam e transformar símbolos de dor em marcos de consciência coletiva.
A localização da sede do DOPS no centro do Rio de Janeiro torna a iniciativa ainda mais significativa, pois ela dialoga diretamente com a paisagem urbana e o cotidiano da cidade. Inserir esse prédio no patrimônio oficial fortalece a relação entre memória pública e espaço urbano, transformando uma edificação discreta em um símbolo visível da luta pela verdade e pela justiça. É uma forma de garantir que a história de repressão e resistência não fique confinada a documentos, mas esteja presente em cada pedra do centro da cidade.
Por fim, o possível tombamento da sede do DOPS no Rio de Janeiro representa uma vitória da memória sobre o silêncio. Se a deliberação for favorável, esse local deixará de ser apenas um vestígio físico de repressão para se tornar um espaço vivo de reflexão e educação. A proteção desse edifício é uma ferramenta poderosa para garantir que as lições do passado preservem-se para o futuro, reafirmando que preservar a memória é também proteger a democracia.
Autor: Rymona Ouldan
